Capítulo 37 do Volume 1: Impensável (Controlados)

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"Impensável" é o trigésimo-sétimo capítulo do Volume 1 da série Controlados (A Aliança dos Castelos Ocultos). Integra a Parte IV do livro.

Ao terminar este capítulo, o/a leitor/a terá lido 58% do livro.

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Personagens[editar]

A fazer

Capítulo comentado[editar]

Cuidado! Você pode sofrer spoilers para o Volume 1 da Série Controlados se continuar a ler! Para ler a Série Controlados, é gratuito: leia online ou baixe o livro em PDF ou ePub neste link.

Desmodes parou a charrete um pouco antes da entrada do castelo do Conselho dos magos. Encontrou dois companheiros se preparando para deixar o lugar no meio da tarde nublada.

--- Desmodes? --- Perguntou Elton, ligeiramente surpreso. --- Onde está Robin?

--- Não veio. Voltou para cuidar de negócios.

--- Ele não avisou que faria isso. --- Elton lançou um olhar interrogatório ao mago que chegava. Janar, que viajaria com o bomin, levantou as grossas sobrancelhas, acompanhando com leve curiosidade a conversa.

--- Houve um imprevisto.

--- Como ele soube do imprevisto se estava entre os al-u-bu-u-na?

--- Ele esqueceu. Foi um imprevisto para mim.

--- Desmodes... Nós não fazemos isto por aqui. --- Disse Elton, em tom de sermão. --- Se temos algo a fazer, algo que determinamos em uma reunião, nós vamos e nós voltamos. Quando um mago não volta assumimos que algo aconteceu.

--- Nada aconteceu, Elton. Duvida de mim?

Os dois mediam-se, um tentando parecer menos desafiado que o outro. Janar pigarreou, tentando lembrar Elton de que queria ir embora.

Dominação

Lamar poderia estar de alguma forma dominando um dos dois, ou mesmo os dois. A narrativa não dá nenhum indício específico quanto a isso, contudo.

--- Para onde ele foi, Desmodes?

--- Eu já disse.

--- Você não disse o nome da cidade. De onde Robin é, Desmodes?

--- O que faz você pensar que ele tenha me dito isso?

Elton balançou a cabeça afirmativamente. Estreitou os olhos um pouco, passou a língua pelos lábios, e murmurou um inaudível "está certo".

--- Vamos de uma vez, Elton, que eu estou farto daqui... --- Disse Janar, subindo a bordo.

Elton concordou com um aceno rápido e, despedindo-se de Desmodes com outro balançar esguio de cabeça, entrou também na negra charrete. Partiram, apressados, e Desmodes observou o transporte virar a curva da passagem entre as montanhas.

Os magos geralmente permaneciam no Conselho por algum tempo após uma congregação. Já se passavam seis dias desde a última, e muitos deles já haviam partido --- especialmente os que viviam em cidades distantes. Outros partiriam dali a pouco, e alguns aproveitavam o lugar para descansar mais antes de retornar às atividades do lugar onde viviam.

Desmodes subiu por uma das escadas, indo direto ao próprio quarto. Tudo estava como ele havia deixado; apenas um pouco mais limpo.

--- Desmodes? --- Perguntou Dresden, passando pelo corredor. --- Quando chegaram?

--- Nesse instante. --- Respondeu ele, virando-se para o mago-rei. --- Cheguei sozinho.

--- O que houve?

--- Robin lembrou-se de que tinha algo urgente a fazer, e então partiu.

--- Foi para onde?

--- Para a cidade dele. --- Desmodes tentou respirar fundo sem tornar o ato óbvio. --- Quem ainda está aqui?

--- Não sei ao certo... Eu parto amanhã. Poucas pessoas ainda estão aqui, temos... Sylvie e Anke. Cássio, também. Como foi com os al-u-bu-u-na?

--- Foi bem. Nosso acordo ainda é válido.

--- Bom saber disso. Quanto ao que disse na reunião, Desmodes... --- Dresden pareceu estar tocando em um assunto que o incomodava. Olhou para os lados, certificando-se de que estavam sozinhos, e prosseguiu. --- Não tive a chance de te dizer, mas... Há extremistas aqui, Desmodes. Pessoas como você. --- Desmodes assumiu feições de surpresa quando Dresden o repreendeu de leve com a centelha de perspicácia que faiscava em seus olhos. --- Pessoas que acham que poderíamos fazer mais, e que isso significa ir lá fora e caçar todo mundo. Não seja mais um, Desmodes. Ou pelo menos não os incentive. Devemos estar juntos agora, e precisamos ter cuidado. Este conselho já sobreviveu a guerras demais sem ser descoberto. Nós já passamos muito tempo sem sermos contestados. A hora chegou, e se lutarmos de frente será o nosso fim.

O choque de perspectivas

Dresden é cuidadoso: o Conselho dos Magos é antigo, e organiza a ação conjunta dos magos. Isso é algo que ele, e muitos magos, prezam: agora, contudo, os alorfos e filinorfos ganham força como nunca antes. Para Dresden, forçar uma organização social sob comando dos magos para continuar garantindo a 'supremacia' vigente seria chamar atenção demais para eles: o antagonismo, a resposta da sociedade, destruiria-os com o tempo. Desmodes representa a visão contrária: apenas a força pode impor a Heelum a ordem necessária: ordem em que os magos dominam, e têm tudo o que merecem com a garantia da posição de superioridade.

Desmodes confirmava, resignado, as palavras do rei. Apertaram as mãos.

--- Minha charrete está esperando por mim. Preciso falar com o general e então irei embora. Ficará aqui?

--- Sim. Penso em ficar até a próxima reunião.

--- Vejo-o na reunião, então.

Dirigiu-se às escadas que levavam ao térreo depois de dispensar um sorriso. Desmodes o seguia com os olhos.

--- Entre.

Desmodes sabia que ela estava no quarto, e ela sabia que era ele do lado de fora. Já haviam se cumprimentado do alto das torres dos castelos, o dela consistindo em seis altas e delgadas torres, agrupadas de maneira irregular dentro de uma pequena área murada. O dele era mais baixo, porém mais extenso. Possuía compartimentos de alturas diferentes, que formavam uma espécie de pirâmide de prédios. As torres de Anke eram douradas, e por entre os blocos floresciam trepadeiras claras como os olhos da maga. O complexo de Desmodes era uniforme e reto, cada prédio um bloco regular e com janelas finas. Militarmente ornado, era feito de uma espécie de pedra negra que era mais arenosa que corvônia, mas ainda assim parecia escurecer a atmosfera circundante em Neborum.

--- Vejo que está de volta. A viagem foi agradável?

--- Sim. --- Respondeu Desmodes, fechando a porta atrás de si.

--- Espero que tenha boas notícias.

--- Está tudo conforme o esperado.

--- Ótimo.

Anke vestia um felpudo roupão verde-escuro, cruzando os braços enquanto estudava o visitante. Corria com os olhos cada parte de seu corpo, querendo encontrar aquilo que não sabia o que era, mas procurava; algo que a despertava, que a interessava, e que ele por cuidado ou ignorância não revelava.

--- Pois bem... Por que veio falar comigo, Desmodes? --- Perguntou ela, mostrando o sofá verde com um abrangente gesto da mão.

--- Tenho uma ideia. Gostaria que ouvisse.

Ambos sentaram-se, ele seguindo o exemplo dela, que estreitou os olhos.

--- Uma ideia sobre o que, exatamente?

--- Nós sabemos como as coisas estão, Anke. Não estão nada fáceis.

Ela mudou de posição no sofá, mostrando-se desconfortável. Passou a olhar para o chão.

--- Você precisou de muito treino e muita dedicação para ser a maga que é. --- Continuou Desmodes em um ritmo mecânico. --- E Heelum há muito sofre com as disputas entre cidades e entre as pessoas, que estão desorientadas...

--- Aonde quer chegar, Desmodes?

Ela notou que ele nunca falava como se estivesse realmente prestando atenção na conversa. Era como se alguém lhe dissesse ao ouvido o que dizer, e ele apenas repetisse.

Dominado

A redação parece dar a entender que Desmodes está dominado por alguém nesse momento. Outra interpretação, mais provável, é a de que ele simplesmente não liga tanto para a justificativa do que faz --- embora entenda que a construção de argumentos é necessária para convencer outros.

--- Precisamos nos unir, Anke.

Ela se levantou, evitando que ele visse seus olhos cansados daquele tipo de discurso. Foi até a janela buscar serenidade para suportar aquela chateação, embora pensasse consigo que o mandaria embora assim que pudesse.

--- Eu já ouvi isso, Desmodes. Há muito tempo ouvimos isso de Dresden.

--- Dresden quer um tipo de união. Eu quero outro.

--- Que outro tipo? --- Indagou ela, virando-se para ele de novo.

--- Deixe-me ver se eu entendi...

Cássio era um bomin que agia como se fosse mais alto do que realmente era. Com um atopetado cabelo escuro e um rosto pontudo e obtuso, andava pelo tapete do próprio quarto --- cheio de cores das obras de arte que entulhavam o lugar --- carregando uma taça de água meio-cheia.

--- Você está me dizendo que sua ideia é... Basicamente --- Dizia ele, gesticulando. --- fazer do Conselho um governo para Heelum inteira.

--- É um jeito de frasear a ideia. --- Respondeu Desmodes, colocando o punho fechado contra a mesa no canto do quarto.

--- E então poderemos... --- Cássio ia reduzindo a voz a cada palavra, passando para a ironia com uma ambiguidade simples, porém efetiva. --- Governar Heelum e fazer as coisas do nosso jeito...

Desmodes voltou-se para ele, assentindo com a cabeça.

--- Desmodes, me desculpe, mas isto não é aceitável.

--- Você está dizendo que não é direito nosso liderarmos este mundo?

Cássio abriu um sorriso amarelo. Atravessou a sala e pôs a taça em cima da mesa, ao lado da mão de Desmodes. Suspirou e olhou para o teto, como se tivesse de lidar com um terrível inconveniente. Olhou para Desmodes novamente, tão próximos que não podiam ver o corpo um do outro ao olhar para a frente. Focavam-se um no rosto do outro, defendendo suas posições em uma batalha verbal que começara antes dos verbos.

--- Desmodes, Desmodes... Como dizer... Devo admitir que você me deixa intrigado. Você é assim ingênuo ou está se fazendo de idiota mesmo? --- Cássio pôs as mãos na cintura, encarando o companheiro de Conselho sem ressalvas. --- Se fôssemos fazer isso mesmo Heelum se levantaria contra nós. Em peso, Desmodes. As piores, mais... Asquerosas cidades viriam aqui atravessar uma lança que nos partiria ao meio!

--- Só perderemos se não estivermos juntos, e ao invés disso estivermos discutindo qual cidade ou tradição é a melhor.

Cássio riu de soslaio, e Desmodes saiu do diminuto espaço pela lateral.

--- Eu não acabei, Desmodes!

--- Obrigado por seu tempo.

--- Me escute aqui! --- Ralhou Cássio. Desmodes estava parado, de costas, já perto da porta. --- Eu já sei o que você guarda aí dentro... Essa, essa confiança arrogante. Você acha que é bom o bastante para ser um governor. Olha aqui, espólico, é melhor você ficar quieto. Você não vai sequer propôr um absurdo desses ao rei!

Governor

Cássio pensa que Desmodes pretende-se tornar um governor: um mago de poder muito maior que torna-se hegemônico quanto a algum domínio de Heelum.

O silêncio tomou conta da sala, largo e denso como o espaço entre o dedo levantado de Cássio e as costas imóveis de Desmodes.

--- E se você tentar alguma gracinha... --- Continuou, pegando a taça novamente na mão esquerda. --- Eu vou acabar com AAAII!

Num estouro estilhaçante, a taça quebrou na mão de Cássio. Quando o mago percebeu, sua mão, que agora sangrava, apertava com força a haste do cálice. À frente, viu que Desmodes dava-lhe um sorriso contido como despedida, fechando suavemente a porta do quarto. Seu castelo se afastava rapidamente, levando consigo as últimas nuvens da tarde.

Como Desmodes fez isso?

É possível que Desmodes não tenha feito nada e Cássio, irritado, tenha quebrado a taça sozinho. O mais provável, contudo, é que o espólico Desmodes tenha invadido Cássio rapidamente e controlado sua mão para apertar demais o copo.

Ver também[editar]

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